Por Ignacio Ybañez, embaixador da União Europeia no Brasil
A cada ano que passa, a atmosfera fica mais quente e o clima muda um pouco mais. Dos oito milhões de espécies que habitam o planeta, um milhão corre o risco de extinção. As florestas e os oceanos estão a ser poluídos e destruídos. Sentimos as alterações climáticas na agricultura com a queda das safras; nas florestas, onde cada vez mais as árvores são devoradas por fogos e doenças; na energia, nos transportes. Os fluxos migratórios devidos a secas, conflitos entre povos pela terra, demonstram que os efeitos das alterações climáticas já não se sentem só na economia.
A pandemia tem vindo a acentuar a nossa fragilidade. No entanto, o aquecimento global é mais difícil de se enfrentar do que a pandemia da Covid-19. Não haverá vacina contra as mudanças climáticas e seus impactos devastadores. Devemos adotar, juntos, uma ação climática ousada e corajosa. A recuperação econômica da Covid-19 deve servir para acelerar a transição para um futuro mais seguro e resiliente.
As escolhas que fazemos hoje definirão o futuro de amanhã. Nos próximos dois anos, governos, estados e cidades em todo o mundo irão gastar cerca de 10 trilhões de euros (quase 60 trilhões de reais) emprestados às gerações futuras para renovar as suas economias. A recuperação proporciona uma oportunidade única para reconstruir as economias de forma melhor e mais voltada para as exigências do futuro.
A UE coletivamente e os Estados Membros individualmente colocaram a sustentabilidade no centro das suas políticas de recuperação. O Pacto Ecológico Europeu adotado em dezembro de 2019 constitui o Norte para este objetivo. Trata-se de uma nova estratégia de crescimento que visa transformar a UE numa sociedade equitativa e próspera, dotada de uma economia moderna, eficiente na utilização dos recursos e competitiva.
O Pacto pretende igualmente proteger, conservar e reforçar o capital natural da UE e proteger a saúde e o bem-estar dos cidadãos contra riscos e impactos relacionados com o ambiente. Ao mesmo tempo, a aposta será equitativa e inclusiva, para não deixar ninguém para trás. A ambição é de alcançar Zero emissões de gases com efeito de estufa até 2050. A estratégia faz parte do conceito de que o crescimento econômico e a proteção do meio ambiente se podem reforçar mutuamente. Investimentos orientados para a sustentabilidade representam um investimento no futuro.
A Biodiversidade faz parte deste empenho. Para 2030, a UE assume grandes compromissos em proteger e restaurar os seus ecossistemas e está pronta para liderar esforços para chegar a um ambicioso novo quadro global de biodiversidade para pós-2020 na próxima COP15 sobre Diversidade Biológica.
O nosso objetivo é fortalecer o Acordo de Paris e aumentar gradualmente o nível coletivo de ambição climática. Porque a mudança climática é um problema global que requer respostas globais. As ações das grandes economias e das economias emergentes podem trazer um grande contributo à redução de emissões de Gases de Efeito Estufa e iniciativas de carbono neutro.
No Brasil, a bioeconomia da Amazônia tem demonstrado que desenvolvimento econômico de comunidades locais e a preservação da natureza podem coexistir. A União Europeia coopera com o Brasil para fortalecer a utilização sustentável de terras e a promoção de cadeias de valor sustentáveis na Amazônia e em outros biomas brasileiros.
O percurso do Brasil na área de tecnologias voltadas para o futuro, como as energias renováveis, demonstra o empenho do país. A UE está apoiando o desenvolvimento de energias renováveis e de eficiência energética no Brasil e está pronta para empenhar-se mais com o Brasil e os estados do Brasil, em compartilhar conhecimentos, experiências práticas, em construir um caminho para a recuperação e transformação das nossas economias mais sustentáveis.